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quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Bonde do Futuro


Bonde antigo no Rio

Puxados por burros, movidos a vapor e logo em seguida à energia elétrica, o bonde está intimamente ligado a memória afetiva dos brasileiros. Mesmo aqueles que nunca sentiram o leve chacoalhar nos trilhos e as sinetas do motorneiro sentem saudade dessa época.
O mundo, e principalmente os grandes centros urbanos, estão à procura de soluções que permitam perder menos tempo nos infinitos e fumacentos congestionamentos de carros vazios e ônibus mal distribuídos pela malha urbana. O Rio não difere dessa realidade. Até quem nunca subiu nas linhas de bonde que aqui circulavam, pode imaginar o quanto seria agradável se algumas ruas da cidade voltassem a receber os trilhos e o passeio tranquilo do bom e velho bonde.
O primeiro bonde a ser visto nas ruas do Rio de Janeiro atravessou a cidade puxado por burricos em 1859. Pertencia à Companhia de Carris de Ferro da Cidade à Boavista, que faliu sete anos mais tarde, em 1866. O serviço foi reinaugurado em 1868 pela Companhia Botanical Garden Rail Road Company, tendo a bordo como passageiro de luxo o Imperador Dom Pedro II e representou o início da expansão das linhas para a zona sul e o subúrbio da cidade. 
Muitas são as curiosidades sobre esse charmoso meio de transporte. Atribui-se a origem da palavra bonde à grande semelhança do termo inglês Bond = Título de dívida. A época, o Barão de Itaboraí havia contraído um grande empréstimo com títulos pagáveis em ouro. Coincidência ou não, pouco tempo depois dessa operação, a Companhia Botanical Rail Road Company, gestora do serviço de bonde, emitiu bilhetes de passagem com a inserção da palavra bond, o que levou imediatamente a população a associação do Bonde aos bonds do empréstimo do Barão de Itaboraí.
Grande também é a contribuição da vida nos bondes para a cultura e o dicionário popular. Quem nunca “comprou um bonde” (fazer mau negócio) ou “pegou o bonde andando” (entrar no meio da conversa em andamento). Esses são alguns dos jargões vivos até hoje no dia a dia dos brasileiros.
As linhas de bonde do Rio de Janeiro, pertencentes à Cia. LIGHT desde 1910, começaram a ser desativadas no início da década de 60. Quase 50 anos depois da desativação do sistema, algumas linhas ainda sobrevivem no Brasil. É possível andar de bonde em São Paulo, Campos do Jordão, Campinas, Belém, Santos e no Rio de Janeiro no bonde de Santa Tereza, o único que nunca deixou de circular até o trágico acidente de 2011.
O caos que vivemos nas grandes cidades, associado à gravíssima crise ambiental com a queima de combustíveis fósseis e a baixa qualidade de vida nas metrópoles, nos impõe algumas reflexões: a Prefeitura do Rio de Janeiro estuda o fechamento da Av. Rio Branco ao tráfego de carros e ônibus, destinando exclusivamente o espaço público ao passeio de pedestres e à circulação de bondes e demais veículos elétricos, reordenando o fluxo dos veículos de transporte público para grandes terminais rodoviários de referência. 
Essa me parece uma boa medida para acelerar o processo de revitalização do Centro, recuperando o charme perdido e potencializando turisticamente esse espaço, o que gera recursos para o município, além de contribuir positivamente para soluções ambientais criativas com o uso de energia “limpa”.
Lisboa
Propostas como essa surgem como uma alternativa mais agradável para a circulação de pessoas. É possível implantar corredores elétricos para bondes em pequenos trajetos hoje feitos por ônibus, sem prejuízo ao tráfego com a formação de novos congestionamentos? É possível implantar corredores elétricos em regiões estratégicas da cidade como forma de potencializar o turismo e criar uma nova paisagem urbana? É possível integrar novas linhas de bonde as matrizes de trem e metrô em estações determinadas? Grandes cidades no mundo como Lisboa, São Francisco (Califórnia) e Melbourne (Austrália)  já fazem isso com êxito.


São Francisco
Melbourne


        A discussão está colocada para o agora e para o futuro. Precisamos decidir sobre a qualidade de vida que queremos. Não só a ambiental, mas também a preservação da sanidade mental da nossa sociedade, enlouquecendo a passos largos com o estresse e a correria contra o tempo nas grandes cidades onde a vida vale muito pouco.
Pergunte a alguém que conviveu e passeou nos bondes do Rio de Janeiro se os transportes públicos melhoraram ou pioraram desde a desativação dos bondes, mesmo considerando o megacrescimento populacional nesse período?
Não podemos ter o preconceito de enxergar o bonde como algo que está necessariamente associado à ideia de passado, de que “tempo bom é o que não volta mais...” ou correremos o grande risco de perder o bonde certo para o futuro.

Um comentário:

  1. É inegável a importância histórica dos bondes e a contribuição turística que eles trazem. Mas até que ponto os bondes são eficientes como transporte público? Certo é que em Santa Teresa nenhum outro meio de locomoção é mais efetivo nas ruas íngremes do bairro. Os moradores têm sentido muita falta do tradicional bonde (que ficou esquecido pelo poder público por décadas, o que acabou resultando na tragédia citada no post).

    Entretanto, quando o assunto é transporte de massa, acredito que existam outras opções mais eficientes (o BRT, por exemplo). Tudo é questão de análises técnicas e vontade política para resolver o grande problema que vivemos hoje no transporte e que certamente se agrava a cada ano que passa (típico das grandes cidades).

    É o que penso!

    Dani

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